O ciclo de entrevistas da Younder e do canal Mova-se, traz um bate-papo com Luiz Carlos Mantovani Néspoli (Branco), Superintendente da Associação Nacional de Transportes Públicos – ANTP para falar da importância da capacitação dos motoristas de frota.
Branco tem extenso currículo e já desenvolveu diversas atividades de planejamento e projetos de transporte e trânsito.
Já atuou nas áreas de planejamento, projeto e operação na Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô, Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos – EMTU, Empresa de Planejamento da Grande São Paulo – EMPLASA e Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo – CET.
Como docente, leciona em cursos de pós-graduação de gestão de transporte e trânsito.
Veja o vídeo da entrevista que ele deu ao Paulo Bogo, sobre a importância de investir na capacitação dos motoristas de frota, a tecnologia dos simuladores e dos benefícios para as empresas e sociedade.
Se preferir, leia logo abaixo os principais tópicos dessa conversa.
Educação no trânsito: a importância da capacitação dos motoristas de frota
“Essencial, a educação vai te dar conteúdos factuais, você vai entender as normas, as leis, ela vai te fazer entender a razão das coisas, ou seja, é necessário que ele compreenda e assimile essas razões. Isso é conceitual, racional. E é necessário que ele saiba fazer as coisas, isso é procedimental. O quarto ponto ainda é que na educação você tem que discutir valores, ou seja, como é que ele se comporta em sociedade. Então a educação é fundamental no processo, no nosso caso no trânsito, de condução de veículos, de comportamento em geral na rua”.
Simuladores de direção
“Esse sistema digital que hoje está muito mais desenvolvido, de ensino à distância, de plataformas digitais, eles se aplicam de uma maneira muito eficiente para os assuntos factuais, ou seja, conhecimento das normas, os conceituais e, também, os atitudinais. Nós precisamos trazer essas plataformas para o mundo prático, ou seja, para o fazer. O fazer, hoje no trânsito, é muito simplificado porque você aprende a dirigir em condições muito específicas, muito controladas, quase que um laboratório na rua. Então essas condições vão te ensinar a usar a máquina, entender a máquina, também no trânsito, numa condição muito superficial, mas o trânsito não é isso, o trânsito é muito mais complexo. É aí que entra a necessidade do simulador.”
Experiências nos simuladores
“O exercício na máquina não é tudo no trânsito. É o exercício na máquina, no ambiente de trânsito. Como o ambiente de trânsito varia a todo instante, mesmo aquele aprendiz que está pretendendo a carteira de habilitação, quanto aquele já profissional, aquele que já trabalha em uma empresa, através do sistema que já existe eles não conseguem ter acesso a todas as situações vivenciadas no trânsito.
Então qual e a finalidade do simulador? É exatamente trazer para este ambiente seguro, sem risco, para que ele vivencie situações de risco e possa ganhar maturidade.
Hoje esses assuntos são tratados como direção defensiva. Direção defensiva faz parte do treinamento da formação do condutor para a habilitação, mas também é exigido para frotistas, para grandes empresas que têm motoristas profissionais, então elas se obrigam a fazer um curso de direção defensiva.
Mas a direção defensiva teórica, dada em sala de aula ou através de plataformas digitais, à distância, através de cursos, ela ensina racionalmente como ele tem que fazer, mas não a vivência de como ele tem que fazer.
Você pode aprender que diante de uma poça d’água você não deve frear. Isso é o ensina a direção defensiva. Mas se você não vivenciar essa condição, você não vai adquirir essa maturidade no fazer, fazendo. É essa a finalidade do simulador.”
Treinamentos para motociclistas
“Na moto a ineficiência dos sistemas de treinamentos atuais é uma barbaridade. Você não pode fazer a vivência da moto na rua com um aprendiz, ou mesmo para quem já é habilitado em situações inseguras.
Não seria irresponsável para fazer que um aluno vá para a rua aprender a moto, porque a essência da moto é equilíbrio dinâmico. Ela só se equilibra com a pessoa sabendo andar na moto. Então você não pode fazer alguém aprender na rua. Por isso que os treinamentos na moto hoje são feitos em áreas confinadas.
Inclusive os exames de habilitação no Detran são feitos em áreas confinadas. Se já é precário para o motorista de automóvel e de caminhão, para moto é muito precária a forma de treinamento.”
Acidentalidade de motociclistas
“A acidentalidade no trânsito de moto hoje é um drama nacional.
Se nós tivéssemos o mesmo nível de acidentalidade e morte na moto que temos hoje nos automóveis, a curva no Brasil tinha caído.
Por que que isso acontece? Porque são pessoas mais imaturas, tem muita gente jovem que adquire a moto sem nenhuma experiência. Aprende a lidar com ela num ambiente confinado e aí vai aprender com ela no trânsito, no dia a dia. O risco é enorme.
Nós condutores, por mais tempo de formação que a gente tenha, não vivenciamos ainda todos as situações de risco possíveis.
Isso você pode fazer através da simulação. Especialmente nesse mundo da formação profissional, dos fretamentos, dos frotistas, em que o uso do equipamento é intenso, ou seja, ele passa o dia inteiro lidando com isso no ambiente de trânsito.
É fundamental que ele aprenda a vivenciar determinadas situações, alterações no trânsito, para poder ultrapassar esse risco.”
No trânsito o perigo é morte
“As pessoas têm que entender o seguinte: uma coisa é o perigo. O que é o perigo? Perigo é um dano físico, na saúde ou dano corporal do indivíduo. No trânsito o perigo é morte, sequelas, ou danos físicos etc.
O risco é você se submeter a situações cujo resultado pode ser a morte e o dano físico. Então quando você é mal treinado, tem pouca vivência, pouca maturidade e entra no ambiente de trânsito, você entra num ambiente de risco. A probabilidade do perigo acontecer, ou seja, a morte e a sequela, aumenta muito.”
Como reduzir a situação de risco
“Através de treinamento em simulação de situações variáveis no trânsito. Situações em que você está submetido a uma variação inesperada, como uma fechada no trânsito, como ultrapassar um veículo em alta velocidade, como fazer uma curva de forma adequada, como dirigir em situações de chuva, ou seja, situações que você pode não ter experimentado ainda, que você pode experimentar no simulador. Quando você for experimentar na realidade você estará um pouco mais maduro para isso.”
Empresas investem pouco em formação de condutores
“É, esse é um erro de atuação. O que acontece com um acidente de trânsito?
Você tem ausência de trabalho, perda laboral, você tem custos que terá que arcar, você tem perda de imagem no seu negócio.
Então é fundamental que você tenha como empresa, como empresário, que você tenha maior eficiência, maior segurança no transporte que você faz.
Como cidadão, como empresa cidadã, ela tem que cuidar também da segurança do país, contribuir para a segurança nacional. O esforço de redução de acidente de trânsito no Brasil é um esforço coletivo.
Porque o custo social do acidente recai sobre toda a sociedade, inclusive sobre o meio empresarial. Então é fundamental ele contribuir também no processo de redução.”
Educar o motorista é educar o cidadão
“Claro! O Detran de São Paulo deu treinamento para os motoristas de ambulância. O nível de satisfação resultante disso foi enorme, inclusive dos gestores de saúde, que viram naquela categoria um ambiente muito mais favorável na condução de uma ambulância.
Então treinamento é tudo. Fazer, só se aprende fazendo”.
Investir na capacitação dos motoristas de frota, é importante para evolução do profissional e gera benefícios para a empresa.
Então, há vantagens nisso. Que eu acho que falta esclarecimento, faltam iniciativas, e falta oferta também de produtos que possam ser extremamente úteis para ele.
No caso de simuladores por exemplo, isso já existe em áreas como aviação, o próprio metrô de São Paulo já utiliza a simulação. Hoje já existem empresas de ônibus que têm treinamento em simulação, ou seja, já há uma leitura empresarial da necessidade disso. O que é importante, é se comunicar mais sobre isso, discutir sobre e oferecer estes serviços.”
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